Mark Zuckerberg publicou ontem em seu perfil no Facebook o post que lançou a iniciativa Internet.org. O objetivo do grupo formado por sua empresa e mais Samsung, Qualcoomm, Ericsson, Opera e Nokia é ousado:  levar conexão aos 5 bilhões de pessoas que hoje estão de fora do jogo. Eles estão em busca do algoritmo supremo.

Isso representa 2/3 da população mundial e um avanço tremendo no ritmo atual de crescimento no números de pessoas que podem entrar na web, que é de apenas 9% ao ano.

A visão do esforço, considerado por Zuck como o maior de sua geração, envolve três pilares principais:

Acessibilidade, como um dos direitos humanos. Isso incluí baratear a transmissão de dados e os gadgets responsáveis por recebê-los, provavelmente smartphones.

Eficiência na transmissão de dados. Cabe aos parceiros investir em  “ferramentas e software para aprimorar a capacidade de compressão dos dados e para permitir que as redes de dados e serviços funcionem de forma mais eficiente.”

Novos modelos econômicos. Parceiros e demais integrantes da rede se concentrarão em desenvolver modelos empresariais para garantir novas formas de acesso à internet.

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Não se sabe ainda, mas é grande a chance que este acesso seja móvel (Samsung) e via Facebook, o que transformará a outrora maior rede social do mundo, no único ou prioritário meio de acesso deste mundão sem fronteira. Já é para você, mas ser para TODO O MUNDO é outra coisa. É, enfim, a busca do algoritmo supremo que vai comandar todo o planeta.

Sim, isso representará mais e mais possibilidades de cruzamento de bases e “insights” para anunciantes. Sim, isso vai mudar a forma como conceitos, tendências e marcas alcançam as diversas culturas com as quais interagem.

Mas não ache que é esta a questão central, pois ela faz parte do jogo. Para podermos acessar enquanto pessoas físicas e carentes de humor inocente e rasteiro nossos Feed de Notícias, alguém tem que pagar a conta.

Antes disso, o time de Menlo Park deu um passo definitivo em busca do Algoritmo Supremo. Aquele que vai a todos governar, só não se sabe como. Se você ainda não esbarrou com o excelente livro do Eli Pariser (O Filtro Invisível), eu resumo rapidamente os conceitos por trás da “economia dos algoritmos”.

Eles funcionam como geradores de reforço positivo, escondendo aquilo que, segundo dados estatísticos e de preditivos, você não teria chance de gostar. Ou não é indicado que goste. Ou não clicará e gerará lucro caso goste.

No lugar da cacofonia criativa do confronto de opiniões, mostram mais e mais do mesmo, até redundar em uma Sinfonia de uma Nota Só que vai acompanhar todos os seus passos, devidamente “retargueteados“, pelos vídeos, fotos e aplicativos que você curtir e compartilhar.

Você pode dizer que algumas pessoas são mais inteligentes do que os algoritmos. Mas a exceção é cada vez mais “traço no IBOPE”, quando se fala em uma quantidade de gente desse porte.

Esqueça os 6 graus de distanciamento da teoria (que aliás, o Face ajudou a derrubar para 4!) e comece a pensar em um uníssono global. Uníssono da nota que os algoritmos acharem mais ressoante, retumbante e alinhada aos modelos de negócio. Captou?

Sinfonia de uma Nota Só.

E tem também o lado político de uma operação envolvendo o projeto “humanidade”. Se o “acesso é um dos direitos humanos” ele é, por definição, transnacional, não reconhece bandeiras, a não ser a da humanidade e do bom senso.

Contudo, contraditoriamente, ter o controle sobre a forma como as pessoas consomem conteúdo e informação influencia (para o bem ou para o mal, ok?) a forma como as pessoas podem expressar sua opinião. O algorítimo supremo compõe a sinfonia de uma Nota Só, mas quem pagou pelo libreto, ora, é o engenheiro social. Momento distopia:  como será que governos responderão a este tipo de domínio?

É claro que é um projeto que nos coloca para pensar também em resultados positivos. A tônica do material que li (ao final do post relacionei algumas fontes), nos mostra uma carta de intenções e algumas visões e missões, mas de concreto não temos ainda muita coisa definida. O tom, contudo, parece claro, trata-se de um modelo de acesso e não de conteúdo.

“A ferramenta e a obra criada por ela” é uma dicotomia que nos acompanha desde o projeto Manhattan, não? Daí, pergunto: a iniciativa Internet.org vai estimular com a mesma “fome de vencer” programas voltados para educação, diminuição de diferenças sociais, disseminação de produtos culturais e vigilância contra abusos autoritários que rolam soltos por aí? Ou estamos falando apenas do acesso?

Existe ainda um terceiro lado.

Como profissional de comunicação, é tentadora a possibilidade de ter como audiência grande parte do mundo. É desafiador também pensar que ferramentas podem nascer a partir daí, que aplicativos farão sucesso ou não pensando sobre estes parâmetros.

Será que aquele quê de contracultura e guerrilha intelectual voltará a ser por outra rede? Qual será? Pensaremos da mesma forma, criaremos conteúdo ou ficaremos paralisados frente a uma grande mente coletiva que não conseguimos compreender?

E, para fechar, a pergunta que, se pudesse, resumiria este post: não é contraditório que o acesso de todos pertença a apenas um?

Leia também: O post original e o release distribuído à imprensa; o artigo no The New York Timeso que o Engadget achapalavras do Mashable; post no Brainstorm#9; post no Youpix