As Olimpíadas sempre foram um espetáculo não apenas dos esportes, mas também da mídia e das narrativas que os cercam. Um bom exemplo é a imagem do Medina flutuando que comentei na primeira edição nossa newsletter.

Em meio a todas as mudanças tecnológicas e de comunicação, as Olimpíadas de 2024 em Paris trarão novas diretrizes de mídia social. Elas prometem transformar a maneira como atletas e patrocinadores interagem com os fãs e o público em geral. Vamos explorar essas mudanças e entender o que elas representam para os envolvidos.

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O avanço das mídias sociais nas Olimpíadas

A galera tira foto até de quem já entrou para a história, como o ex-corredor de longa distâncias etíope Haile Gebrselassie. Imagem de: Amanuel Sileshi/AFP

Desde as Olimpíadas de Inverno de Vancouver 2010, conhecidas como as “primeiras Olimpíadas das redes sociais”, a presença e a influência de plataformas de mídia social nos jogos olímpicos só têm crescido.

Naquela época, o Comitê Olímpico Internacional (COI) já implementava diretrizes específicas para o uso de mídias sociais, que foram refinadas para os Jogos de Londres em 2012, visando controlar e regulamentar o compartilhamento de conteúdos.

Nas Olimpíadas de Tóquio em 2020, os atletas tinham restrições significativas quanto ao que podiam postar nas redes sociais. Os atletas não podiam compartilhar conteúdo das áreas credenciadas durante competições ou cerimônias, nem podiam promover seus patrocinadores pessoais. Essas medidas tinham como objetivo principal proteger os direitos dos detentores de mídia, como emissoras de TV e grandes organizações de mídia.

As mudanças nas diretrizes de 2024 para mídias sociais dos atletas

As novas diretrizes do COI para as Olimpíadas de Paris em 2024 marcam uma mudança significativa, permitindo uma maior liberdade para os atletas compartilharem suas experiências. Essa mudança foi provavelmente impulsionada pelo crescente reconhecimento da importância das mídias sociais na promoção pessoal e no engajamento dos fãs.

Agora, os participantes poderão:

  • Tirar fotografias e gravar áudio e vídeo dentro e fora das áreas credenciadas.
  • Compartilhar fotografias em suas redes sociais até uma hora antes do início da competição em que estão participando e após deixarem as áreas de controle de doping.
  • Publicar conteúdo das áreas de treinamento e prática, das cerimônias de abertura e encerramento e do Parque dos Campeões, onde os atletas se reúnem após as competições para interagir com os fãs.

Ainda assim, existem restrições específicas para proteger os direitos dos detentores de mídia:

  • Vídeos não podem ser transmitidos ao vivo, devem ter menos de 2 minutos e não podem incluir competições. Isso significa que os treinadores não podem compartilhar vídeos dos atletas em ação e os próprios atletas não podem postar destaques de suas competições pessoais. Somente imagens e vídeos de contas oficiais dos detentores de direitos de mídia podem ser compartilhados.
  • Fotografias e vídeos que utilizam inteligência artificial não podem ser compartilhados, ainda que não esteja claro como o COI irá fiscalizar essa regra.

Pera que publi não pode não…

Uma das questões mais delicadas gira em torno das postagens com fins comerciais. Durante o período dos jogos, os participantes não podem fazer postagens com o propósito de gerar lucro financeiro ou promover terceiros, produtos ou serviços.

Os patrocinadores que não são parceiros oficiais das Olimpíadas ainda têm algumas permissões. Eles podem rodar publicidade genérica durante o período dos jogos, desde que não seja especialmente projetada para as Olimpíadas e tenha sido veiculada publicamente pelo menos 90 dias antes do início do torneio. Essas campanhas não devem ser intensificadas durante os jogos em comparação aos períodos anteriores.

Os participantes podem fazer uma mensagem de agradecimento a cada um de seus patrocinadores não-olímpicos durante o período dos jogos, mas sem incluir endossos pessoais. Este delicado equilíbrio tenta proteger os direitos dos detentores de mídia e, ao mesmo tempo, permite que atletas e seus apoiadores tirem proveito do enorme potencial de alcance das redes sociais.

O Impacto Econômico e o Branding Pessoal

Direitos de imagem podem render fortunas consideráveis aos atletas. O jogador de críquete indiano Virat Kohli, por exemplo, pode ganhar entre US$2 milhões e US$2,7 milhões por postagem nas redes sociais. Com as novas diretrizes, os atletas têm uma oportunidade melhorada para mostrar seu conteúdo e, mais importante, reconhecer seus patrocinadores pessoais, que são cruciais na comercialização de suas imagens e na construção de suas marcas.

Os fãs também ganharão uma visão mais completa das jornadas olímpicas de seus atletas favoritos, algo que antes era mais limitado devido às regras restritivas.

O que vem por aí na comunicação de eventos deste porte?

Essa tentativa do COI de equilibrar os direitos dos detentores de mídia com os dos participantes certamente resultará em debates contínuos à medida que se aproximam as Olimpíadas de 2024. Com a evolução constante das tecnologias de mídia social e das expectativas tanto dos espectadores quanto dos atletas, adaptar-se a esse novo cenário será crucial para o sucesso dessas mudanças.

Em suma, as novas diretrizes de mídia social das Olimpíadas de Paris de 2024 representam um avanço significativo em termos de liberdade e engajamento para os atletas. Elas evidenciam a crescente importância das redes sociais na promoção e monetização da imagem dos atletas, equilibrando isso com a necessidade de proteger os interesses comerciais dos detentores de direitos de mídia.

O caminho à frente para atletas, patrocinadores e organizadores será navegar com cuidado por essas mudanças, garantindo que todos possam aproveitar ao máximo essas novas oportunidades enquanto respeitam as regras estabelecidas para manter a integridade e a exclusividade do evento.

Para seguir no tema: New Social Media Guidelines – Olympics 2024