Imagine um futuro em que um assistente de voz sussurra conselhos e lembretes ao longo do seu dia, sugerindo assuntos para conversas, ajudando a lembrar nomes de colegas ou guiando suas decisões com informações precisas e instantâneas. Esse cenário, denominado “Whisperverse“, descreve o impacto da fusão entre inteligência artificial (IA) e realidade aumentada (RA), proporcionando experiências “mágicas” e potencialmente transformadoras, mas não sem riscos.

Louis Rosenberg, cientista e pioneiro em IA e RA, introduz o termo “Whisperverse” como um novo conceito de tecnologia “perceptual overlay” que reconfigura nossa experiência diária. Ele argumenta que, em breve, dispositivos como óculos inteligentes e fones de ouvido AI-integrados vão fornecer orientações contextuais em tempo real. Imagine sair para uma reunião e ter seu assistente digital lembrando de detalhes de um projeto ou guiando você até seu carro em um estacionamento lotado.

O que é o Whisperverse?

O Whisperverse refere-se a um ecossistema onde dispositivos de IA e RA fornecem suporte contínuo e discreto. Esse “sussurrador digital” acompanha o usuário, oferecendo conselhos e lembretes, como se fosse um “elfo eletrônico”. As promessas de assistentes de IA altamente responsivos incluem desde ajudar na gestão da vida cotidiana até melhorar habilidades sociais, como sugerir tópicos de conversa para encontros ou reuniões.

Dispositivos como os Ray-Bans da Meta, que já oferecem tradução de idiomas em tempo real e identificação de locais, são exemplos iniciais. À medida que esses dispositivos evoluem, espera-se que incluam funções visuais, mostrando conteúdo diretamente no campo de visão do usuário, como no protótipo Orion da Meta. A partir da próxima década, a integração de assistentes visuais em realidade aumentada poderá incluir avatares projetados para ajudar e interagir de forma amigável e prática.

As vantagens do Whisperverse

Assistentes digitais podem fornecer o que Rosenberg descreve como “superpoderes” cognitivos, aumentando a capacidade de reter informações, tomar decisões e lembrar-se de detalhes importantes. A tecnologia pode, por exemplo, melhorar a produtividade no trabalho e a interação social. O objetivo é uma imersão tranquila e assistida na vida diária, onde o usuário se sente mais confiante e preparado para responder a qualquer situação.

Essa era da “mentalidade aumentada” permite uma transição do conceito de mobile computing para “wearable computing”, ou computação vestível, na qual os dispositivos não só acompanham, mas participam das atividades, integrando-se à nossa percepção e resposta ao ambiente.

Será que tem risco essa influência silenciosa ou com certeza?

O Whisperverse, no entanto, também traz preocupações éticas. A perspectiva de que assistentes de voz e RA atuem em nome das grandes empresas de tecnologia preocupa devido ao potencial de manipulação e invasão de privacidade. Em um modelo baseado em anúncios, como sugere Rosenberg, essas tecnologias poderiam se tornar as ferramentas de persuasão mais poderosas já criadas, moldando preferências, hábitos e até crenças.

A capacidade de “sussurrar” e de mostrar conteúdo visual contextualmente aumenta o potencial de influenciar escolhas de consumo ou alterar percepções de eventos. Imagine, por exemplo, um assistente sugerindo sutilmente produtos ou serviços ao usuário enquanto navega no mundo físico.

Esse tipo de direcionamento de comportamento, que muitos cientistas sociais e tecnólogos como Shoshana Zuboff já analisaram em seu conceito de “capitalismo de vigilância”, levanta questões sobre autonomia e controle sobre nossas próprias ações.

Regulamentação e Ética podem ser nova fronteira para este suposto Whisperverse

Para Rosenberg, a introdução do Whisperverse demanda regulamentação focada, que imponha limites claros entre funcionalidade útil e persuasão excessiva. Ele destaca que, sem uma regulamentação eficiente, corremos o risco de que empresas capitalizem sobre a capacidade dos dispositivos de influenciar e manipular. Isso poderia exacerbar problemas de ansiedade, insegurança e dependência, além de corroer a confiança entre as pessoas e seus assistentes digitais.

Rosenberg sugere que o objetivo das regulamentações deveria ser proteger a privacidade e a autonomia dos usuários, permitindo que as empresas de tecnologia se concentrem em como esses assistentes podem realmente beneficiar a vida cotidiana, em vez de explorar o comportamento para fins comerciais.

Conclusão

O Whisperverse promete revolucionar nossa interação com a tecnologia e, potencialmente, enriquecer a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. No entanto, o equilíbrio entre benefícios e riscos será determinado pela forma como essa tecnologia será utilizada e regulamentada.

A questão é: será que estamos preparados para o impacto de assistentes de voz que nos sussurram conselhos em tempo integral? A resposta depende de um comprometimento ético das empresas e da implementação de uma regulamentação que proteja a individualidade e a autonomia dos usuários.

Fonte: Venture Beat